Houve influência da terapêutica preconizada pela prefeitura sobre a curva epidêmica do RN?
Vamos aqui fazer uma leitura objetiva da Figura de Projeções Otimistas e Pessimistas para o Rio Grande do Norte e detalhar, de forma direta, o que podemos concluir da evolução de casos e óbitos no RN à luz dos dados oficiais distribuídos no Boletim da SESAP-RN. O gráfico de cenários (Figura 1) foi gerado para diversos países e estados do Brasil segue a estrutura descrita na publicação referida abaixo (referência 1) . Leva em conta os quantitativos da população local e as projeções são baseadas em uma inferência estatística acoplada a dinâmica epidemiológica feita com o modelo SEIR+ MOSAIC descrito na referência 2 e já publicada na Revista internacional com comitê de leitura PlosOne.
Respondendo aqui a questão “O uso em massa da ivermectina pela população poderia ter mudado a trajetória da curva de óbitos no Rio Grande do Norte?”
A resposta é não. E este vigoroso não é sustentado pelos seguintes pontos:
1. O Isolamento existiu de fato e muito estável em alguns lugares. Todos nós conhecemos muitas pessoas que não saíram de casa por seis meses. As medidas da Inloco, Google e outros sistemas, mostram que uma parcela sempre esteve isolada. Logo, essa relação de pessoas isoladas (mesmo abaixo do requerido), além de outros pontos destacados aqui, em seguida, são as principais razões da dinâmica de contágio observada no Rio Grande do Norte. (Ver Figura abaixo). Como vemos na Figura abaixo, a Paraíba esteve sensivelmente melhor que o RN durante os meses de abril, maio e junho, perdendo somente posições em julho, no pós-abertura de Rio Grande do Norte.
2. A trajetória da curva foi mudada principalmente pelo isolamento social, além do uso de máscaras e melhoria nos processos clínicos (aqui todo o processo incluído) e, principalmente, a passagem do pico epidêmico que foi lida pelos modelos matemáticos em primeira mão e comprovada observacionalmente pela taxa das UPA’S e ocupação de %UTI em todas as regiões de saúde do estado e não somente nos lugares onde houve uso de fármacos específicos. Destaca-se, ainda em menor grau, pois foi e é numericamente frágil no Brasil e no RN, a testagem de pacientes e acompanhamento de infectados testados positivos e suas redes de contágios. O pós pico epidêmico já tinha passado de fato e estávamos descendo a ladeira no momento do término do decreto de isolamento.
3. A ivermectina não tem eficácia “In vivo” comprovada para COVID-19 . Seu uso no contexto de um ensaio clínico no RN, poderia demonstrar ou não, sua eficácia. Oportunidade perdida pois seria fácil comprovar sua eficácia antes da vacina, mas, no entanto, nenhum laboratório do mundo se interessou. Seria MUITO fácil, atualmente, verificar efetividade por um estudo caso-controle de positivos e óbitos tendo tomado ou não a ivermectina.
4. Mesmo não funcionando, se funcionasse por hipótese teria aumentado muito o número de recuperados (curados). No RN, estes são equivalentes a outros estados. Teríamos uma explosão de curados em Natal onde foi distribuída a ivermectina, por exemplo. NATAL não tem mais recuperados que outros lugares. Logo, a epidemia segue sua estatística típica. Matou menos no RN porque os “susceptíveis” estavam guardados em casa (junte-se a isso as escolas paradas etc). O isolamento foi em média sempre maior que 30% da população e muitas redes de contágio foram retiradas, desfeitas até 29 de Junho de 2020 (ponto 1).
5. A mudança da curva tem somente 1 causa principal: o equilíbrio do isolamento devido aos decretos (e medo de morrer, pois os óbitos já são muitos) e a passagem da primeira onda de contágio do vírus na zona metropolitana. Nos meses de maio e junho, mesmo lugares com grande mobilidade, também houve retração na circulação de pessoas. Se fosse uma vitória, a letalidade do RN seria abaixo de 1.0% (resultado que seria surpreendente no Brasil). Estaríamos em todos os jornais.
6. O RN tem hoje 1.678 óbitos para 3.409.000 habitantes. Isso corresponde a cerca de 2,0% dos óbitos e corresponde a 1,6% da população. Há mais casos proporcionais que a média nacional, logo, seria de se esperar que com a oferta maciça do medicamento, se mudasse o registro, quando comparado com a mortalidade das outras localidades.
7. A COVID-19 funciona assim: 96% das pessoas devem passar por isso somente com sintomas leves. Mas, em torno de 1–4 % dos casos devem se agravar. Logo, estes 96% podem tomar desde mel, gengibre, Sol, cloroquina ou Ivermectina..nada mudará.
8. Segundo o Conselho nacional de Secretários de Saúde, O RN tem hoje, dia 27 de Julho de 2020, 1.678 óbitos e 47.291 casos confirmados, com uma letalidade de 3,6%. O estado da Paraíba, sem Ivermectina induzida em nenhum município, possui 1.698 óbitos com 76.153 casos, gerando uma letalidade de 2.21%.
9. Para encerrar, uma figura abaixo mostra casos por milhões de habitantes. A linha Amarela é o RN. VEJA que estamos piores que a PARAÍBA (Violeta) (ponto 8 também comprova) que não usou Ivermectina. Fármaco não autorizado cria ilusões em forma de escudos inoperantes e isto é perigoso na atual situação.
10. Especificamente para Natal e RN, a mortalidade por 100.000 em 04 de Julho era de: Natal 57,2 e RN 34,22 . Em 14 de Julho, a de Natal era 69 e RN 41,15. Em 25/07 Natal tinha 80 mortes por 100.000 e o RN 47,68 . Em resumo, nenhuma diferença no crescimento vegetativo da mortalidade por cem mil foi registrado quando se investiga 20 dias atrás na mesma janela temporal de uso mais intensivo do protocolo defendido.
Concluindo 1: Em medicina, as conclusões sobre terapêutica são dadas por: ensaios clínicos duplo cego com *n grande, depois ensaios clínicos duplo cego com n pequeno, depois estudos de cohorte, estudos caso-controle e estudos ecológicos. Dessa forma, nosso artigo deve ser considerado como uma análise ecológica da intervenção terapêutica do município nos indicadores da covid em Natal. Assim concluímos que, embora a análise não agregue evidências clínicas, a intervenção não alterou indicadores epidemiológicos-chave.
Concluindo 2: O artigo Evolution and epidemic spread of SARS CoV-2 in Brazil foi publicado pela revista Science em 23 de julho. A pesquisa foi coordenada pelo CADDE (www.caddecentre.org), e envolveu pesquisadores britânicos e brasileiros de diversas instituições. Este Artigo categoricamente mostra o mesmo que mostramos aqui em micro escala regional dos estados (Figura 2) e na escalo Meso da Região nordeste. O Isolamento foi a única atitude eficiente no combate ao avanço da COVID-19 nos estados, municípios (melhora da clínica médica, máscaras, etc ajudaram).
Pesquisadores Dr. José Dias do Nascimento (Física — UFRN); Dr. Ion Andráde (SESAP/RN/CEFOPE e LAIS-UFRN), Dra. Marise Freitas DINF-UFRN, Dr. César Rennó-Costa (IMD-UFRN); Ms.C. Leandro Almeida (Física — UFRN); Dr. Renan Cipriano Moioli (IMD — UFRN).
Bbliografica referenciada
Ref. 1 Prediction of the COVID-19 Outbreak in South Korea and Italy, By Dr. Cheng-Chih (Richard) Hsu, Department of Chemistry, National Taiwan University
https://geneonline.news/en/2020/03/14/prediction-of-the-covid-19-outbreak-in-south-korea-and-italy/
Ref. 2 OVID-19 pandemics modeling with SEIR(+CAQH), social distancing, and age stratification. The effect of vertical confinement and release in Brazil. Wladimir Lyra, Jose Dias do Nascimento, Jaber Belkhiria, Leandro de Almeida, Pedro Paulo Chrispim, Ion de Andrade doi: https://doi.org/10.1101/2020.04.09.20060053 https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.04.09.20060053v3
Ref. 3. Conselho nacional de Secretários de Saúde — Conass https://www.conass.org.br/painelconasscovid19/
Ref. 4 The Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME)
Ref. 4 Candido et al. 2020. “Evolution and epidemic spread of SARS-CoV-2 in Brazil”, Science. https://science.sciencemag.org/content/early/2020/07/22/science.abd2161