Análise da Evolução dos casos e óbitos por coronavírus no Rio Grande do Norte — RN

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Teremos uma Marola ou um Tsunami pela frente?

INCIDÊNCIA (CASOSCONFIRMADOS/100.000 HAB )NO RN ATUALIZADO EM 12DE DEZEMBRO DE 2020. INFORME EPIDEMIOLÓGICO CORONAVÍRUS (COVID-19) Subcoordenadoria de Vigilância Epidemiológica. Informe Epidemiológico, 12 dedezembrode 2020.

O Rio Grande do Norte nesta semana do dia 14 de Dezembro de 2020 apresenta 102.846 casos confirmados de Covid-19 desde o início da pandemia segundo o SUVIGE/CPS/SESAP. Com relação aos óbitos são 2.790 neste período. Os dados usados neste estudo são aqueles publicados no boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) e integralizados até a última sexta-feira (11).

Modelo Epidemiologico Completo.

A Figura acima, apresenta o Modelo epidemiológico completo para o RN e calculado com o MOISAIC-UFRN. (A) temos a evolução das populações de EXPOSTOS ao vírus (rosa), indivíduos ASSINTOMÁTICOS (violeta), indivíduos SINTOMÁTICOS (amarelo). Nesta figura vemos as marcas das mudanças na evolução de casos expostos ao vírus. As aberturas detectadas nos dados e modeladas aqui por nossa análise estão marcados como 1, 2 e 3 no gráfico superior A. Temos a fase 1 em 1º de junho de 2020: Esta foi a primeira fração da reabertura no RN. O ponto 2 é a segunda fase da retomada gradual com reabertura de academias e outros serviços. O Ponto 3 é uma exposição rápida e sem precedentes e que sublinhamos no relatório passado (ignorada pela SESAP-RN). Vemos que a linha rosa descendente em direção ao nível mais baixo, interrompe a descida e passa por um « soluço » e muda de rota (pontos 1, 2 e 3). Sem as aberturas abruptas, a linha rosa teria descido do topo até zero sem desviar para a direita e ainda em Setembro teríamos uma situação de maior controle. Essa linha nos diz a quantidade de expostos. No ponto 3 está marcado um novo e improcedente pico consequente da volta às aulas na rede privada e início das campanhas políticas ao mesmo tempo. Situação ABSURDA. A situação de aparentemente “calma”, porém com constância de óbitos diários desde Julho de 2020 gerou o perigo epidêmico e o repique atual. A consequência desse movimento BRUSCO marcado pelo ponto 3 no início de outubro é um aumento grande do risco epidêmico e uma reversão COMPLETA da curva. Existem elementos para um TSUNAMI de casos previstos como ponto 4. Em resumo: com as estratégias seguidas, o RN está alongando o problema e expondo a população. Não usou a informação científica e o período entre as duas ondas para preparar a população. (B) Diagrama representa as hospitalizações, onde os pontos verdes escuros são as UTI’s e os verde-claros, leitos clínicos. Os dados de hospitalizações gerados pela SESAP-RN seguem em cima do modelo teórico em um ótimo acordo e isso reforça a precisão das projeções MOSAIC. A demanda é CRESCENTE no momento e com possibilidade de 80% de ocupação. No gráfico C, temos a evolução de casos (pontos amarelos) e óbitos (pontos pretos). É claro nos dados observacionais a mudança na evolução e isso é percebido pelo modelo e as consequências estão nos painéis B e C. Não estancar os mais de 3 ou 4 óbitos diários dos meses de Julho a Outubro foi grave e favoreceu a situação atual. Sem vacina, e sem quebra da rede de contágio, a pandemia pode chegar a Maio de 2021, o que é péssimo para vários segmentos do Estado do RN.

Série histórica de casos acumulados em função do tempo e interpolação da série por meio de uma curva de crescimento generalizado (curva preta).

Figura 1: (a) Série histórica de casos acumulados em função do tempo e interpolação da série por meio de uma curva de crescimento generalizado (curva preta). Na extremidade a direita, percebe-se a mudança de tendência dos últimos dias. http://fisica.ufpr.br/modinterv/

Evolução de casos por dia de acordo com os dados disponibilizados pela SESAP-RN. Fonte MOSAIC/UFRN http://astro.dfte.ufrn.br/html/Cliente/COVID19rn.php

O Rio Grande do Norte apresenta isolamento social baixo e segue uma tendência de RISCO PANDÊMICO alto. O Período de pós-abertura (fim dos decretos) com superposições de circulação massiva de pessoas, tais como no retorno `as aulas (escolas privadas) e nas campanhas políticas, mudaram de forma intensa a evolução da pandemia no RN. Os grupos de susceptíveis circulantes colocaram a sociedade em risco. De forma geral, o uso de máscaras é irregular e o R(T) oscila em torno de 1, o que contribui para o maior risco epidêmico. Além disso, o estado apresenta uma subnotificação de quase 30 dias, com isso, o R(T) real no Rio Grande do Norte deve estar constante e acima de 1. Como anunciado no Boletim passado, a formação de um pico extremamente importante (linha rosa na Figura 4) no número de expostos descrito pelo modelo MOSAIC-UFRN, gerou uma projeção de uma possível onda de contágios nas próximas semanas. Segundo o modelo completo MOSAIC-UFRN vemos que a reabertura da forma que foi conduzida espalhou a onda epidêmica, que poderia ter sido bem mais curta no RN, e a volta às aulas, juntamente com as campanhas políticas, geraram um pico de contágio rápido e sem precedentes (agora confirmado definitivamente). Uma mudança radical nas tendências em outubro nos trouxe para a situação atual de grande risco. Os pontos levantados pelo relatório passado não foram noticiados nem comentados por nenhuma comissão do Estado ou Municípios e a omissão por parte da gestão do estado continua preocupante. Leitos com ocupação acima de 75% formam o cenário de risco e possibilidade de uma nova onda. Na situação atual sem vacinas, a presente pandemia pode continuar até maio de 2021, com os níveis atuais de óbitos ou uma piora considerável. Não estancar os 3 ou 4 óbitos diários durante os meses de Julho até Outubro foi grave e contribuiu para a situação atual. A pandemia longa (maio/junho de 2021) é um péssimo cenário para os vários segmentos do Estado do RN. Apesar da precaução adotada para analisar os dados com baixa qualidade, ainda é possível prever a formação de uma SEGUNDA ONDA. Neste contexto, o MODELO-MOSAIC UFRN mostra que o RN é o estado com o PIOR cenário entre os estados do Nordeste, seguido pelo CE (Figuras 4). Essa projeção pode ser mudado de duas formas: com a melhora nos índices de isolamento ou com a vacina.

O Rio Grande do Norte e a 2a onda no Contexto dos 9 estados Nordeste.

Na figura abaixo apresentamos a evolução dos dados de casos e óbitos para os 9 estados do Nordeste (RN, PI, BA, AL, PB, PE, MA, SE, CE). A distribuição dos dados mostra dois momentos de evolução. O primeiro é de uma subida rápida, e segundo é de uma subida mais gradual.

Evolução de Casos e óbitos para o os 9 Estados do Nordeste

No que se refere a comparação do número de expostos calculado pelos modelos MOSAIC-UFRN com base nos dados observacionais para os 9 estados no Nordeste, o que vemos são realidades parecidas, porém com destaque para o CE e RN. Nestes dois estados temos um avanço rápido no percentual de expostos e dentre todos os estados do nordeste, o RN é o único que apresenta um degrau extremamente relevante no mês de Outubro (ver Figuras abaixo). Este ponto coincide com o início das campanhas políticas e retorno ‘as aulas na rede privada.

Evolução do Número de expostos em Função do Tempo para os 9 Estados do Nordeste. O Rio Grande do Norte e o CE apresentam a formação de uma segunda onda vigorosa. Especificamente o RN mostra uma subida rápida e uma situação bastente preocupante. Este número de expostos é calculado através dos modelos SEIR (QH+) como descrito por Lyra, do Nascimento et al (2020)
Evolução do Número de expostos (em percentuais da população de cada estado) em Função do Tempo para os 9 Estados do Nordeste. O Rio Grande do Norte é único que apresenta uma lombada sem precedentes na evolução. Este número de expostos é calculado através dos modelos SEIR (QH+) como descrito por Lyra, do Nascimento et al (2020)
Evolução do Número de leitos de UTI’s

Evolução do Número de leitos de UTI’s que deve ser necessário de acordo com a evolução da segunda onda nos estados no nordeste.

Com relação ao número de leitos, o Rio Grande do Norte e o Ceará apresentam uma situação bastante crítica numa possível segunda onda. Este quadro pode ser modificado com a retração do movimento da população (isolamento para diminuir a onda de contágios) ou pela chegada de uma vacina. Este número de expostos é calculado através dos modelos SEIR (QH+) como descrito por Lyra, do Nascimento et al (2020).

O Modelo: Usamos uma versão modificada de um modelo compartimental determinístico do tipo SEIR para rastrear a evolução da epidemia de COVID-19 em uma população isolada de N indivíduos. Assumimos que uma população poderia ser subdividida em compartimentos como descrito em Lyra, do Nascimento et al. (2020).

Conclusão: Com relação aos dados integralizados até o dia 11 de Dezembro de 2020, o que vemos é a formação de uma segunda onda clara no compartimento dos expostos para o estado do Rio Grande do Norte e Ceará. O Tempo característico entre a primeira e a segunda onda esta de acordo com o lapso temporal já observados em outras populações. O CE e o RN tem situações parecidas e uma segunda onda vigorosa. O comportamento futuro da pandemia nestes estados é função de dois aspectos principalmente. A taxa de circulação que gera transmissibilidade e o surgimento de uma vacina. A projeção feita aqui é baseada nos dados obtidos até 11 de dezembro de 2020.

Referências

  1. COVID-19 pandemics modeling with modified determinist SEIR, social distancing, and age stratification. The effect of vertical confinement and release in Brazil. Citation: Lyra W, do Nascimento J-D, Jr., Belkhiria J, de Almeida L, Chrispim PPM, de Andrade I (2020) COVID-19 pandemics modeling with modified determinist SEIR, social distancing, and age stratification. The effect of vertical confinement and release in Brazil. PLoS ONE 15(9): e0237627. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0237627

Pesquisadores Dr. José Dias do Nascimento (Física — UFRN); Dr. César Rennó-Costa (IMD-UFRN); Ms.C. Leandro Almeida (Física — UFRN); Dr. Renan Cipriano Moioli (IMD — UFRN).

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Prof. José-Dias do Nascimento Júnior
Prof. José-Dias do Nascimento Júnior

Written by Prof. José-Dias do Nascimento Júnior

Professor, Astrofísico, Astrónomo, Cientista, Velejador

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